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Carboidratos: vilões ou heróis?
A verdade científica para o treino e a saúde

No universo da nutrição e do treinamento físico, poucos macronutrientes geram tanta controvérsia quanto os carboidratos.

Frequentemente rotulados como vilões em dietas de emagrecimento ou idolatrados como a principal fonte de energia para atletas, a verdade sobre os carboidratos reside em uma compreensão mais aprofundada de sua função, tipos e, crucialmente, do timing de seu consumo.

Victor Alexandre - 02/10/25

A função essencial dos carboidratos no organismo

Os carboidratos são a principal fonte de energia do corpo humano. Uma vez ingeridos, são quebrados em glicose, que é então utilizada pelas células para produzir ATP (adenosina trifosfato), a moeda energética fundamental para todas as funções celulares, desde a contração muscular até a atividade cerebral [1].

1. Fonte de energia primária
Para o cérebro, a glicose é a fonte de energia preferencial e quase exclusiva. Uma oferta inadequada de carboidratos pode levar a fadiga mental, dificuldade de concentração e irritabilidade. Para os músculos, os carboidratos são armazenados na forma de glicogênio (glicogênio muscular e hepático). Durante o exercício físico, especialmente em atividades de alta intensidade e longa duração, o glicogênio muscular é o combustível primário, permitindo que os músculos mantenham a performance [2].

2. Preservação proteica
Quando a ingestão de carboidratos é insuficiente, o corpo pode recorrer à quebra de proteínas (musculares, inclusive) para obter glicose através de um processo chamado gliconeogênese. Isso significa que, em vez de usar proteínas para construir e reparar tecidos, elas são desviadas para a produção de energia, o que pode comprometer a manutenção e o crescimento muscular. Os carboidratos, portanto, exercem um efeito poupador de proteínas [3].

3. Regulação metabólica
Os carboidratos desempenham um papel crucial na regulação de hormônios importantes, como a insulina. A insulina é um hormônio anabólico que facilita a entrada de glicose e aminoácidos nas células, sendo fundamental para a recuperação muscular e o processo de hipertrofia. A resposta insulínica adequada, modulada pela ingestão de carboidratos, é vital para a saúde metabólica geral.

Tipos de carboidratos: entendendo as diferenças

Os carboidratos são classificados em simples e complexos, uma distinção que se baseia em sua estrutura química e na velocidade com que são digeridos e absorvidos pelo organismo.

1. Carboidratossimples (Monossacarídeos e Dissacarídeos)
Caracterizam-se por sua estrutura molecular pequena, o que permite uma digestão e absorção rápidas. Isso resulta em um aumento mais veloz dos níveis de glicose no sangue e, consequentemente, uma resposta insulínica mais acentuada. Exemplos incluem:

Glicose, Frutose e Galactose: Monossacarídeos encontrados em frutas, mel e laticínios.
Sacarose (açúcar de mesa), Lactose (leite) e Maltose (malte): Dissacarídeos.

Embora forneçam energia rápida, o consumo excessivo de carboidratos simples, especialmente os adicionados e refinados, tem sido associado a problemas de saúde como resistência à insulina, diabetes tipo 2 e ganho de peso [4].

2. Carboidratos complexos (Polissacarídeos)
Possuem uma estrutura molecular maior e mais complexa, exigindo mais tempo para serem digeridos e absorvidos. Isso resulta em uma liberação gradual de glicose na corrente sanguínea, proporcionando uma fonte de energia mais estável e prolongada, além de uma resposta insulínica mais moderada. São ricos em fibras, vitaminas e minerais. Exemplos incluem:

Amido: Presente em grãos integrais (arroz integral, aveia, quinoa), batata, batata doce, mandioca.
Fibras: Encontradas em vegetais, frutas com casca, leguminosas e grãos integrais. As fibras são essenciais para a saúde digestiva, controle glicêmico e saciedade [5].

Timing do consumo de carboidratos: estratégia para o desempenho e a saúde

O "quando" consumir carboidratos é tão importante quanto o "quais" e o "quanto". A estratégia de timing pode otimizar a energia para o treino, a recuperação e a composição corporal.

1. Pré-treino
O consumo de carboidratos antes do exercício visa garantir estoques adequados de glicogênio e fornecer energia imediata. Carboidratos complexos (como aveia, pão integral, batata doce) são ideais 2-3 horas antes do treino para uma liberação gradual de energia. Se o tempo for curto (30-60 minutos antes), carboidratos de digestão mais rápida (como uma fruta) podem ser preferíveis para evitar desconforto gastrointestinal [6].

2. Durante o treino
Para treinos de longa duração (acima de 60-90 minutos) ou alta intensidade, a ingestão de carboidratos durante o exercício pode ser benéfica para manter os níveis de glicose no sangue, retardar a fadiga e preservar o glicogênio muscular. Bebidas esportivas ou géis com carboidratos simples são comumente utilizados para esse fim [7].

3. Pós-Treino
O período pós-treino é crucial para a recuperação e a ressíntese de glicogênio muscular. A ingestão de carboidratos de rápida absorção (como arroz branco, banana, pão branco) nas primeiras horas após o exercício é altamente recomendada para repor os estoques de glicogênio de forma eficiente. A combinação com proteínas neste momento potencializa a recuperação e a síntese proteica muscular [8].

4. Carboidratos à noite
O mito de que carboidratos à noite engordam é amplamente refutado pela ciência. O ganho de peso está mais relacionado ao balanço calórico total do dia do que ao horário de ingestão de um macronutriente específico. Consumir carboidratos à noite pode, inclusive, auxiliar na recuperação muscular, na qualidade do sono e na regulação hormonal [9].

Conclusão: carboidratos são heróis, com estratégia!

Longe de serem vilões, os carboidratos são, de fato, heróis indispensáveis para quem busca otimizar o desempenho físico, promover a hipertrofia e manter uma boa saúde. A chave reside na educação e na aplicação estratégica. Victor Alexandre enfatiza que a escolha inteligente dos tipos de carboidratos, a adequação das porções e o timing correto de consumo são os pilares para transformar esse macronutriente em um poderoso aliado. Ao entender a ciência por trás dos carboidratos, você estará capacitado a nutrir seu corpo de forma eficaz, alcançando seus objetivos de treino e bem-estar com inteligência e sustentabilidade.

Referências

[1] Jequier, E. (1994). Carbohydrates as a source of energy. The American Journal of Clinical Nutrition, 59(3 Suppl), 682S-685S.
Link para o artigo

[2] Hultman, E., & Greenhaff, P. L. (1992). Carbohydrate feeding and exercise performance. Sports Medicine, 14(2), 101-111.
Link para o artigo

[3] Lemon, P. W. (1991). Effect of exercise on protein requirements. Journal of Sports Sciences, 9(S1), 101-115.
Link para o artigo

[4] Ludwig, D. S., et al. (2001). High glycemic index foods, overeating, and obesity. Pediatrics, 108(3), E66-E66.
Link para o artigo

[5] Slavin, J. L. (2005). Dietary fiber and body weight. Nutrition, 21(3), 411-418.
Link para o artigo

[6] Burke, L. M., et al. (2011). Carbohydrates for training and competition. Journal of Sports Sciences, 29(sup1), S17-S27.
Link para o artigo

[7] Coyle, E. F. (2004). Fluid and fuel intake during exercise. Journal of Sports Sciences, 22(1), 39-55.
Link para o artigo

[8] Ivy, J. L. (2004). Regulation of muscle glycogen repletion, muscle protein synthesis and repair following exercise. Journal of Sports Sciences, 22(1), 178-185.
Link para o artigo

[9] Soeters, M. R., et al. (2011). Effects of isocaloric carbohydrate-restricted diet on body composition and metabolic parameters in healthy men. International Journal of Obesity, 35(10), 1330-1338.
Link para o artigo

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